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São diversas frentes de apoio, com doações e trabalho de todo o Brasil. Uma turma com mais de 70 voluntários com profissionais que hoje estudam e trabalham no Paraná e Paraguai: |
A situação dramática ocasionada pelas enchentes de maio em Estrela – quatro de grandes proporções em menos de um ano – é visível aos olhos de todos. Para uns, por meio dos relatos dos diversos meios de comunicação. Para outros de forma mais real, presencialmente. Para uma turma em especial, oriunda do Paraná, mas com pessoas de todo o Brasil, este cenário ocorreu de duas formas. São mais de 70 voluntários, em especial da área médica, que estão realizando um trabalho em Estrela e outras cidades da região. Mais do que o conhecimento técnico na ajuda comunitária, trazem conforto, carinho e esperança.
A delegação que partiu de Foz do Iguaçu chegou ao Vale do Taquari no final de semana, após mais de 15 horas de viagem. Estão estabilizados em uma fazenda de Bom Retiro do Sul, mas atuando por grupos em diversas cidades. Em Estrela, divididos, fizeram rodízios nos abrigos e direto nos bairros mais afetados.
“Que destruição”, diz Manuela Sarmento (27), uma das voluntárias do comboio do Paraná, ao olhar pelo vidro da van, logo ao chegar em Estrela. A observação da estudante de medicina é compartilhada por outros membros do grupo. São mais de 70 oriundos de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, no Paraguai. São estudantes e professores da área médica, e também outras funções diversas. No grupo, representantes de diversos estados, como Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Acre, Minas Gerais, também do próprio RS. Pessoas que já conheciam e não o Estado, mas antes da tragédia. De forma geral, independente do local de origem, perplexidade: “Água chegou até aqui?”, questionam outros. “Tristeza”, resume André Sobrinho, também estudante de medicina. “O que a gente estava vendo pela TV e internet não se compara ao que estou testemunhando agora aqui.”
Extremos
Joyce Oliveira (26) é fonoaudióloga. Está no Paraná, mas o sotaque carregado demonstra ser de origem bem distinta. “Do outro Rio Grande. Do Norte”, revela. Diante do cenário que está testemunhando, explica. “Quem diria, vivi este contexto de tristeza e até de morte em dois cenários bem distintos, e sempre com a água como protagonista. No Norte, por causa da falta dela. Aqui, pelo excesso. Lá vi animais morrendo por sede; aqui afogados”, reitera. Mas Joyce reconhece. “Ainda assim, o cenário de destruição aqui é mais forte, presente. Mas apesar de tudo, do que se passa, é elogiável a organização, os serviços oferecidos, a mobilização de todos. Como profissional da área médica, fico só a imaginar como funcionava tudo antes.”
Cicatrizes
Caio César da Silva Prato (33) é um dos líderes do grupo. Médico e professor universitário, dá o seu panorama após as primeiras horas em Estrela. “É imensurável explicar. Mais do que a tragédia física, a humana. Essa não tem data para ser recuperada. Podemos trazer nossos conhecimentos técnicos, remédios, ajudar com medicações, tratamentos e tudo mais. Mas o que este povo mais precisa, e vai necessitar ainda por muito tempo, é do apoio psicológico”, relata. “É de um abraço, um conforto, algo que muitos podem dar, pois trata-se de uma ferida difícil de cicatrizar.”
Outras frentes
São diversas outras frentes onde o trabalho de voluntários tem sido fundamental. Exemplo são as mobilizações para a produção de alimentos e nos centros de recepção, organização e distribuição de donativos. Grupos distintos têm realizado trabalhos diretos e constantes nos abrigos. Quem quiser contribuir de alguma forma pode procurar o Comitê de Crise do município, direto na Prefeitura, ou os diversos pontos de atuação. Auxílio para a limpeza de lares, principalmente de pessoas de mais idade, é outra grande demanda.
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Texto: Rodrigo Angeli